quarta-feira, 14 de março de 2007

UM POETA ANÔNIMO

por Ramon Ribeiro

O poeta é o grande comunicador de seus sentimentos. Ele tem o dom de passar uma mensagem artística como o trovador, das épocas medievais, que noticiava os acontecimentos do reinado entre versos e rimas.

Hoje, gostaria de relatar um fato que ocorreu num daqueles dias banais, no meio de uma aula monótona. Um inesperado indivíduo interrompe a aula. Ele trocou algumas palavras com o professor e depois foi sentar-se discretamente na carteira próxima a porta.

Terminada a aula enfadonha, o professor deu espaço ao singelo rapaz que foi em frente da turma e disse, com a sua voz mansa, algumas palavras que poucos deram a mínima atenção. O professor então alertou aos alunos para que ouvissem o que o homem teria a dizer.

Ele não estava ali para pedir nada. Queria apenas comemorar seu aniversário de 10 anos de diplomado em letras. Para tanto, ele resolveu se homenagear recitando uma de suas poesias para algumas turmas da UFRN.

Caracterizado para a sua performance poética, recitou a seguinte poesia:

Viva os noivos!
Viva! Viva!

Era dia de Santo Antônio.
Um casal anônimo
Decidiu
Fixar matrimônio
Na igreja e no civil.


Mariano e Jerônimo.
Jerônimo e Mariano.
(Literalmente noivos)

Mariano
Recebeu esse nome
Porque sua mãe
Esperava uma filha
Que se chamaria Maria.
Nasceu um homem.

Jerônimo
Seria
O dono do fazendário patrimônio
Que o seu pai, Raimundo Garcia,
Lha deixaria.

Mariano
Era a filha prendada
Que a sua mãe, imaculada,
Não tivera.

Jerônimo
Era menino de cara bela,
Cobiçada por toda donzela

Mas eis que o destino
Foi cruel com todas as donzelas
E entregou Jerônimo menino
A nenhuma delas.

O destino foi soberano
E entregou Jerônimo menino
Justamente a Mariano.

Era dia de Santo Antônio
E a igreja era de São Sebastião.

Mariano de branco.
Jerônimo de preto.
Jerônimo radiante.
Mariano de ramalhete.

Muita emoção
Na despedida a caminho do céu.
Os noivos gozarão
Lua de mel
In San Francisco,
De onde não mais voltarão.

Viva os noivos!
Viva! Viva!

Acabado o recital, ele foi embora e a turma o esqueceu. Praticamente não deram o valor devido àquela apresentação esforçada. Hoje, no dia da poesia, resolvi homenagear esse poeta, seu nome, Heverton Duarte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela iniciativa e pela forma que foi apresentado a homenagem.

Anônimo disse...

Fez bem lembrar deste momento, é a universidade com pluralidade de idéias e sentimento!